quinta-feira, 30 de abril de 2009

Canção



Cecília Meireles




No desequilíbrio dos mares,as proas giram sozinhas...



Numa das naves que afundaram é que certamente tu vinhas.



Eu te esperei todos os séculossem desespero e sem desgosto,e morri de infinitas mortesguardando sempre o mesmo rosto.



Quando as ondas te carregarammeu olhos, entre águas e areias, cegaram como os das estátuas, a tudo quanto existe alheias.



Minhas mãos pararam sobre o ar e endureceram junto ao vento, e perderam a cor que tinham e a lembrança do movimento.



E o sorriso que eu te levavadesprendeu-se e caiu de mim:




e só talvez ele ainda viva dentro estas águas sem fim.



O tempo às vezes nos toma tempo e outras vezes nos faz ficar parados no tempo. Fiquei imóvel por um tempo e agora meu tempo voltou a andar. Saudade do tempo passado, do tempo presente e esperando o tempo futuro. Pronto, ja estou no meu tempo.